sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Um ano de vida no campo

Gosto de ver o amanhecer. O sol começa a iluminar os campos lá no fundo e depois vem espalhando- se até às nossas janelas viradas a nascente. Adoro o pôr do sol cor-de-rosa espelhado no pequeno lago artificial que me acompanha muito enquanto amamento a Teresa sentada na cama do meu quarto.
Foi um ano de mudanças: mudar de cidade, mais uma filha, Diana na escola. Cão, gato, horta. A minha irmã longe de novo.
Temos um baloiço no jardim e a minha filha mais velha sabe que as lagartas gostam de comer couves, que as lagartas dos pinheiros são perigosas e que os pirilampos têm uma luzinha na barriga.
Detestamos formigas e o Diogo tem uma nova obcessão: bater com o cabo da vassoura no tecto do quarto da Diana para afugentar um rato qualquer que lá vive.
Almoçamos na esplanada e fazemos piqueniques, tudo na nossa casa. Podemos gritar e andar despidos ao ar livre porque estamos longe dos vizinhos e dos veraneantes.
A chuva e o vento foram a nossa companhia durante a maior parte do tempo, afinal estamos na "terra onde o Inverno passa as férias de Verão", contaram-me entretanto. Nem sempre é facil gostar disto, para mim que venho do sol, da praia a conco minutos, da minha total independência... Foi um ano de grandes mudanças.



terça-feira, 16 de setembro de 2014

O cliché

Nunca, até vir para Lisboa estudar, senti que vivia num lugar assim tão diferente, a margem sul. Quem vive do outro lado tem um monte de preconceitos e ideias disparatadas que nem sempre correspondem à verdade ou poderão, tão pouco, aplicar-se apenas à margem esquerda do rio Tejo. Ainda assim, vou permitir-me este porque tem mais graça assim:

Podes tirar a pessoa da margem sul, mas não tiras a margem sul da pessoa.

Ao segundo dia de escola a Diana chega a casa e descalça-se dizendo:
- tenho uma surpresa para ti.
- ai sim? O que é?
Tira a sandália e mostra-me um bocado de plasticina lá colado.
- olha, plasticina! Pisaste sem querer?
- não, tirei lá da sala e guardei aqui. Achei que podias precisar.
- ...

Vou publicar hoje este rascunho.

Não tenho tido pachorra/coragem/discernimento para escrever. Confrontar-me com a minha própria verdade. Não me tem apetecido. Sinto-me até no direito porque este blogue é feito de ausências das quais, a minha, para já.
Se escrevesse seria sempre sobre o mesmo. A saudade. Ser mãe trouxe-me este monstro que me devora sempre. Sempre. Sempre.

(Escrevi-o algures enquanto trabalhei, podia ter sido no início ou mesmo antes de ficar em casa de novo. O sentimento permanece)

O primeiro dia de escola

A minha bebé está a crescer. Ontem foi o primeiro dia de escola. A minha companheira durante os últimos três anos e nove meses vai começar a passar metade do seu dia longe de mim, rodeada de pessoas que não conheço a fazer coisas novas e a aprender. Vou deixar de ter a minha pequena melhor amiga atrás de mim para tudo: às compras, a limpar a casa, a ver televisão.
Nunca me vou esquecer dos olhinhos dela muito abertos, da vozinha a dizer-me que estava com medo : " e se eu me magoar, mamã?"; " não te esqueces de me vir buscar?" As dúvidas e aqueles olhinhos a dilacerarem-me o coração. Mas, valente, lá foi ela pendurar a mochila e sentar-se a observar tudo.
E eu a chorar o dia todo. Cheia de saudades. A tentar aprender com ela também a separar-me.
A minha bebé deixou de ser exclusivamente assunto meu. Há alguém que a vai ensinar, influenciar, conhecer de outra forma.
Sim, fomos buscá-la à hora de almoço, eu e o pai. Sim, é uma das poucas. Irei sempre que puder: gosto de lhe proporcionar este "break" a meio do dia e de me dedicar a fazer-lhe o almocinho.
Chegou a casa feliz, cheia de novidades, lembrava-se da história que lhe contaram na parte da tarde. O meu coração descansou, respirei de alívio. Se ela está feliz, eu também estou.

acerca da menina