quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Diálogos à beira do Grito com a minha mãe - I

São conversas que, pela insistência de ambas as partes em ideias opostas, ameaçam descambar numa gritaria, a menos que uma das partes desista.
Ultimamente referem-se à minha filha e portanto quem manda sou eu. O simples facto de ainda dialogar sobre isso é algo que até a mim me surpreende.

minha mãe: - Acho que devias comprar os andantes da Chicco, para a menina começar a andar.
(O tratamento por menina é algo que, desde logo, me faz descer da testa o último pingo de paciência)
eu: - Não, mãe, acho que ela anda melhor descalça. Já te disse.
mm: - Mas o pé precisa dum apoio.
eu: - Se precisasse nascíamos com ele. O pé precisa de estar à vontade, para se desenvolver.  E é muito mais confortável. Os sapatos, quando muito, protegem do frio, do piso e assim. Logo compro sapatos quando ela andar a pé na rua.
mm: - a menina sempre descalça...
eu -...
mm: - eu compro-lhos...
eu: - p-r-e-f-i-r-o 
        q-u-e 
        a-n-d-e
        d-e-s-c-a-l-ç-a
mm: ...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Não afectados pelo clima

Os brasileiros só têm um modo: o modo carnaval.
Um aniversário é um carnaval, ir ao cinema é um carnaval, andar de avião é um carnaval. Mas no Natal eles decidiram que não dava para ser carnaval e então rodeiam-se de pinheiros artificiais, neve a fingir, gelo a fingir numa fácil e bonita alusão ao pólo norte, mas no verão e com quarenta graus à sombra. Isto com a mesma antecipação histérica e comercial do resto do mundo. 

Fico contente porque é quase tão ridículo como as nossas dançarinas de samba escanzeladas e roxas do frio aos pulos em cima de camiões de fruta numa versão portuguesa do trio eléctrico: frio, triste e descabido.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Di

Eu também não quero vir nem ficar longe de ti. Se tu ficas aos gritos quando me vês caminhar para a porta, eu também quero gritar, largar as malas e abraçar-te. Abraçar-te muito, dizer-te segredinhos parvos e ficar assim até à noite, durante a noite e até de manhã. Para sempre.
Sentir o calor do teu pescocinho, o teu hálito de bebé e de mamar, os dedinhos a enrolarem-se no meu cabelo. Isto é sempre bom, nunca é suficiente, apetece sempre mais.
Dói muito deixar-te.
Mas acredito também que te deixo com amor à tua volta, que tenho que vir e garantir-te o melhor futuro que eu puder. É um preço muito alto? É. Demasiado? Espero que não.

Amo-te mais do que algum dia pensei ser possível.

acerca da menina