terça-feira, 26 de maio de 2009

Velhos

Eu até gosto de velhinhos. Mas de preferência em quantidades inferiores a 100. A sério, uma centena velhos é dose. Hoje contei 150.
Todos a precisarem de espaço para as pernas gordas e inchadas de varizes: menina, onde é o 54? Não temos esse lugar no avião, deixe-me ver o cartão de embarque. Ah, tenho a certeza que era o 54, agora não sei onde está isso. Acabou de o mostrar ali à porta, procure lá. E sim, lá estava o cartão no meio de 15 outros fora de prazo. Era o vinte seis: olhe, já passou, tem que voltar para trás. E assim os 150 velhinhos andam para trás e para a frente à procura dos lugares, uns por cima dos outros, a pisarem-se e a conversarem muito, a fingirem que não encontram para se sentarem onde lhes apetece. Surdos para tudo o que não lhes seja de feição.
Todos a caminho das casas de banho, muito devagar, a pararem em todos os lugares para falarem com outros velhos. Nós a tentarmos passar, a não conseguir porque os velhos são muito gordos e também não nos ouvem a pedir por favor, por favor, temos que passar.
Os 150 velhos a quererem interagir com o moderno sistema de entretenimento: a artrose em conflito com o 'touch screen'.
Um mínimo de 300 vezes a perguntar o que querem comer porque nenhum percebe à primeira - muito menos se não houver o que querem. Compensam com rapidez e gritos no momento mais aguardado: tinto!
Depois vem o café e as 150 chávenas querem à força ir a transbordar da bebida a ferver, apesar das mãos que as seguram tremerem tanto que fazem adivinhar o pior.
E por fim, o tremendo cheiro de 150 velhos a fazerem a digestão e a conviverem durante seis horinhas num espaço exíguo.

Sim, já sei, de castigo vou viver até aos cem anos, gulosa, surda, resmungona, insuportável e cega.

sábado, 23 de maio de 2009

Que totó?


Eu gosto da Telma. Adoro miúdas "kick ass". E é gira. Mas que totó é aquele?
Não dá estilo, não fica giro nem servirá o remoto objectivo de lhe desviar o cabelo dos olhos, já que é só um.
Tenho dificuldade em entender, pronto. Vim aqui só dizer isto.

terça-feira, 19 de maio de 2009

A Difícil Arte de Ser Gajo

Ele é um cabelinho espetado, mas à régua: muito direito e num desalinho estudado.
A t-shirt colada ao tronco pequeno e a apertar os bracinhos curtos; as calças de fato de treino largas nas pernas que se adivinham de rã porque as mesmas calças são justas na cintura e no rabo. O suficiente para aquele ligeiro enfiamento pela nalga e formação uma* papinho na frente.
A coisa agrava-se se imaginarem tudo isto atarracado em 1,50m de pessoa. A minha maior dificuldade, além de não rir cada vez que ele se mexe é não o pisar porque nem distingo quando está sentado ou de pé.
Entra numa aula cheia de gajas que se juntam à terça-feira para dançar e onde ele onde é que se põe?
Muito macho, à frente de toda a gente, a dois passos do espelho, logo atrás do professor.
Erro crasso porque se a insignificância já era risível, à comparação da bomba dançante que é o nosso guru, torna-se quase digno de pena.
O quase é porque aquele 1,50m de pessoa acha-se o máximo. Caso contrário não abanava tanto os pequenos glúteos, rodando a pequena cintura de abelha e agitando muito os pequenos bracinhos curtos. Muito menos o faria com um risinho de prazer nos lábios e olhar matador para as colegas.

*deixei ficar esta gralha porque o que escrevi primeiro foi "pachachinha" em vez de papinho. Porque é o que parece, na verdade.

sábado, 9 de maio de 2009

Estava em casa, irrequieta, incapaz de tudo, de ficar parada, incapaz de ir a um cinema e de ver pessoas, estranhos, outros. Incapaz de esperar, incapaz de desesperar e mandar tudo às urtigas. Estava já a ficar sem peles nos dedos de tanto roer e sangrar.
Num impulso saio de casa indiferente à chuva torrencial com a desculpa pouco credível de ter que comprar o jornal. Esse, novo, que me desperta a curiosidade pelo nome que às vezes uso: i.
E descubro o porquê da molha ter valido a pena. Porque há pessoas que me fazem sentir normal: o MEC. "Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? (..) O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende." in Nós 01 Românticos, pp3.

A desatar.

acerca da menina