Eu até gosto de velhinhos. Mas de preferência em quantidades inferiores a 100. A sério, uma centena velhos é dose. Hoje contei 150.
Todos a precisarem de espaço para as pernas gordas e inchadas de varizes: menina, onde é o 54? Não temos esse lugar no avião, deixe-me ver o cartão de embarque. Ah, tenho a certeza que era o 54, agora não sei onde está isso. Acabou de o mostrar ali à porta, procure lá. E sim, lá estava o cartão no meio de 15 outros fora de prazo. Era o vinte seis: olhe, já passou, tem que voltar para trás. E assim os 150 velhinhos andam para trás e para a frente à procura dos lugares, uns por cima dos outros, a pisarem-se e a conversarem muito, a fingirem que não encontram para se sentarem onde lhes apetece. Surdos para tudo o que não lhes seja de feição.
Todos a caminho das casas de banho, muito devagar, a pararem em todos os lugares para falarem com outros velhos. Nós a tentarmos passar, a não conseguir porque os velhos são muito gordos e também não nos ouvem a pedir por favor, por favor, temos que passar.
Os 150 velhos a quererem interagir com o moderno sistema de entretenimento: a artrose em conflito com o 'touch screen'.
Um mínimo de 300 vezes a perguntar o que querem comer porque nenhum percebe à primeira - muito menos se não houver o que querem. Compensam com rapidez e gritos no momento mais aguardado: tinto!
Depois vem o café e as 150 chávenas querem à força ir a transbordar da bebida a ferver, apesar das mãos que as seguram tremerem tanto que fazem adivinhar o pior.
E por fim, o tremendo cheiro de 150 velhos a fazerem a digestão e a conviverem durante seis horinhas num espaço exíguo.
Sim, já sei, de castigo vou viver até aos cem anos, gulosa, surda, resmungona, insuportável e cega.
1 comentário:
Confesso, de imaginar fiquei cansada. Mas tens razão...a merda, é que vamos para velhos!!!
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