Uma senhora, que podia ser a minha avó. De muletas, a sorrir agradecida pelo momento raro de atenção que lhe foi concedido. Dois minutos, se tanto, de conversa de circunstância.
Os olhinhos húmidos a explicar que talvez conseguisse descer a escada íngreme porque não queria deixar as outras pessoas à espera. Esta generosidade que desarma por ser a de todos os dias e não da que compramos na corrida das datas convencionais.
Eu a dizer-lhe que não, não era preciso, que esperávamos que a viessem buscar. Com muito gosto.
A outra a correr disparada, na pressa de ganhar dois minutos do tempo precioso dela, em voz alta: " a senhora não consegue descer as escadas?! É que assim está toda a gente à espera!"
Disse logo que sim e, com um esforço que teve tanto de doloroso como de desnecessário, desceu devagarinho e entrou no autocarro sozinha, porque os filhos também não esperaram e sairam primeiro.
Há dias em que morro um bocadinho.
4 comentários:
Há uns anos atrás, já não sei bem em que altura do ano, mas acho que era Verão, ia com uma amiga apanhar o comboio, quando de repente, nos apareceu um senhor para aí com uns setenta e tal anos a sangrar do nariz e da testa. Parecia perdido. Abeirámo-nos e percebemos que, muito provavelmente, padecia de uma daqueles doenças infernais que comem a memória aos poucos. Não sabia para onde ia, nem tão pouco, como se tinha magoado. Senti-me exactamente como tu.
que dor
Prepara-te que vou a caminho! Mais uns meses e ajudo-te a carregar os sacos da senhora e a barrar os idiotas apressados que às vezes parecem não perceber que um autocarro só parte quando tem todos a bordo!
São situações com essas, corriqueiras do nosso dia-a-dia, que me fazem pensar se estamos mesmo no topo da pirâmide...quanta ingenuidade a nossa. Mas, tenho esperanças de que um dia o amor toque o coração dessas pessoas.
Enviar um comentário