sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Orgulho.
Foi a primeira coisa que senti assim que soube que estava grávida. Acariciei a barriga, seria uma menina, tive a certeza. Pus a música do carro mais alta, Alicia Keys, a minha filha e eu. Não foi planeada e por isso decidi que havia de ser a melhor preparada das mães. Construí uma carapaça para nós as duas e mais ninguém havia de lá entrar nem a ferro nem a fogo. Duríssima comigo e com todos.
Nasceu-me a meio da noite, achei que tinha sido o jantar a cair-me mal quando começaram as contracções. 
Chorava desalmadamente. Gritava a plenos pulmões... Duríssima, nasceu ela também. 
Faz hoje quatro anos a minha primeira filha. Aquela que me fez descobrir o verdadeiro e pleno amor. Capaz de tudo por ela.
Desafia-me muito a cada minuto. É sempre tudo novo porque ela é a primeira. É ela que tem de suportar também todas as minhas hesitações e erros. 
Gosta de ser gatinha, não princesa, e de brincar aos dragões. Gosta de ver bonecos e quase não se nota o que sofre pela perda de colinho desde que nasceu a irmã. Gosta muito do colinho. A reboque do colinho, como se não bastasse, este ano tirei-lhe ainda a chucha e deixo-a na escola metade do dia. Para bem dela, mas ainda assim dói. Às duas.
Parabéns a nós querida Diana, amo-te mais e mais. Até ao sol e de volta.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Psicologia

Eu: olha, o gato afia as unhas aí nessa tua cena (chapeleira deixada no chão da sala há uma semana) do carro.
Ele: e tu deixas?!
Eu: eu não! Sou altamente contra, já lhe disse. Inclusivamente escrevi na carta de boa convivência entre humanos e gatos e coloquei-a lá na casinha dele.
Ele: ...

Alguma horas mais tarde...

Eu: olha, o cão roeu os teus ténis.
Ele: os de correr? E tu deixaste?
Eu: eu não! Sou altamente contra, já lhe disse. Inclusivamente escrevi na carta de boa convivência...
Ele: pronto, pronto. Já percebi.

Vamos ver quanto dura...

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Conversas

Diana: eu acho que a Teresa devia para de chorar.
Eu: ela chora bem menos do que tu...
Diana: olha, mãe, eu tenho muito mais problemas! 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Os sem-noção

Há muitas sub-espécies deste tipo de pessoa: sem-noção do ridículo; do bom senso; do bom gosto; do tempo; do espaço; da educação; da privacidade alheia, por aí fora. E há-os muito completos, que reunem várias sem-noção num só ser, chamemos-lhe os sem-noção-de-porra-nenhuma a não ser o que seja do interesse do próprio umbigo. Estes sem-noção-de-porra-nenhuma vivem no submundo da manipulação, dos jogos psicológicos, da chantagem emocional, da lagriminha fácil e gostam de parasitar. Os hospedeiros destes parasitas normalmente são gratos por alguma coisa involuntária e mais ou menos útil que os sem-noção-de-porra-nenhuma às vezes trazem às suas vidas. Pode ser qualquer coisa: uma limpeza, alimentos extra, companhia... you name it. Qualquer delas existiria nas vidas dos hospedeiros de qualquer forma, mas enfim, os sem-noção-de-porra-nenhuma, no seu joguinho, conseguem criar a ilusão da sua própria utilidade. Senão... Choram.
Os sem-noção-de-porra-nenhuma normalmente não incomodam o seu hospedeiro, apenas quem o rodeia.
Não há tratamento conhecido, tenta-se minimizar os danos colaterais.
Eu fui brindada com um destes sem-noção-de-porra-nenhuma na minha vida e não estou a dar conta: a minha sogra.


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A Teresa

Faz hoje cinco meses. Cinco meses de pura doçura. Tenho dito muitas vezes que acho que esta miúda veio ao mundo trazer felicidade tal é o brilho no olhar e o sorriso aberto distribuído a toda a gente. Ainda fico a olhar para ela muitas vezes e a pensar "nem acredito que estás  aqui..." Pensar que me foi concedido outro ser para guardar e educar, é muita sorte a minha...
Mesmo nos dias em que me estou a passar com as duas a chorar, ou as duas a precisar de atenção, ou as duas cheias de ranho num looping interminável de dias e noites a misturarem-se...aquele sorriso derrete-me da cabeça aos pés. E, mais recentemente, as duas a rirem-se juntas... A Diana a divertir-se em fazê-la rir, lembro-me tão bem de me rir com a minha irmã bebé. Espero que ela também se lembre.
Gosto muito desde que nasce, claro, mas mais cada dia também. Adoro este bebé a ficar crescido nas suas roupinhas fofas de inverno.
Sinto que lido com ela sempre a correr, tive pouco tempo de lamber esta cria como gostava. Ela merecia mais. Sinto-a também muito independente: não coatuma acordar a chorar, coloca a chucha sozinha, gosta que a deixem a brincar.
E, olha, estou a ouvir um doce chamado: acordou. Lá vou eu.
:)

P.s Gostava de por uma foto, mas parece que agora tenho que instalar mais uma aplicação que quer aceder aos meus ficheiros privados. Não me apetece, nem tenho tempo para a estudar convenientemente. Talvez um dia.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

De bom grado lhe passava a ele as mamas por um dia. E com elas a responsabilidade, o elo, o vínculo, o peso, a fome, a sede, a roupa manchada, o encaroçar. Por um dia, de bom grado.

sábado, 11 de outubro de 2014

Não tenho a certeza de ter tido horas de sol suficientes para estar já a suportar o outono / inverno...


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A Diana na Escola:

- Mãe a Vitória não quer ser minha amiga... Temos que a convidar para ir a minha casa, para ela aprender.
- Para ela aprender? Como assim? Convidamo-la e pomo-la de castigo?
- Nãããoo... Para ela aprender a ser minha amiga!

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Um ano de vida no campo

Gosto de ver o amanhecer. O sol começa a iluminar os campos lá no fundo e depois vem espalhando- se até às nossas janelas viradas a nascente. Adoro o pôr do sol cor-de-rosa espelhado no pequeno lago artificial que me acompanha muito enquanto amamento a Teresa sentada na cama do meu quarto.
Foi um ano de mudanças: mudar de cidade, mais uma filha, Diana na escola. Cão, gato, horta. A minha irmã longe de novo.
Temos um baloiço no jardim e a minha filha mais velha sabe que as lagartas gostam de comer couves, que as lagartas dos pinheiros são perigosas e que os pirilampos têm uma luzinha na barriga.
Detestamos formigas e o Diogo tem uma nova obcessão: bater com o cabo da vassoura no tecto do quarto da Diana para afugentar um rato qualquer que lá vive.
Almoçamos na esplanada e fazemos piqueniques, tudo na nossa casa. Podemos gritar e andar despidos ao ar livre porque estamos longe dos vizinhos e dos veraneantes.
A chuva e o vento foram a nossa companhia durante a maior parte do tempo, afinal estamos na "terra onde o Inverno passa as férias de Verão", contaram-me entretanto. Nem sempre é facil gostar disto, para mim que venho do sol, da praia a conco minutos, da minha total independência... Foi um ano de grandes mudanças.



terça-feira, 16 de setembro de 2014

O cliché

Nunca, até vir para Lisboa estudar, senti que vivia num lugar assim tão diferente, a margem sul. Quem vive do outro lado tem um monte de preconceitos e ideias disparatadas que nem sempre correspondem à verdade ou poderão, tão pouco, aplicar-se apenas à margem esquerda do rio Tejo. Ainda assim, vou permitir-me este porque tem mais graça assim:

Podes tirar a pessoa da margem sul, mas não tiras a margem sul da pessoa.

Ao segundo dia de escola a Diana chega a casa e descalça-se dizendo:
- tenho uma surpresa para ti.
- ai sim? O que é?
Tira a sandália e mostra-me um bocado de plasticina lá colado.
- olha, plasticina! Pisaste sem querer?
- não, tirei lá da sala e guardei aqui. Achei que podias precisar.
- ...

Vou publicar hoje este rascunho.

Não tenho tido pachorra/coragem/discernimento para escrever. Confrontar-me com a minha própria verdade. Não me tem apetecido. Sinto-me até no direito porque este blogue é feito de ausências das quais, a minha, para já.
Se escrevesse seria sempre sobre o mesmo. A saudade. Ser mãe trouxe-me este monstro que me devora sempre. Sempre. Sempre.

(Escrevi-o algures enquanto trabalhei, podia ter sido no início ou mesmo antes de ficar em casa de novo. O sentimento permanece)

O primeiro dia de escola

A minha bebé está a crescer. Ontem foi o primeiro dia de escola. A minha companheira durante os últimos três anos e nove meses vai começar a passar metade do seu dia longe de mim, rodeada de pessoas que não conheço a fazer coisas novas e a aprender. Vou deixar de ter a minha pequena melhor amiga atrás de mim para tudo: às compras, a limpar a casa, a ver televisão.
Nunca me vou esquecer dos olhinhos dela muito abertos, da vozinha a dizer-me que estava com medo : " e se eu me magoar, mamã?"; " não te esqueces de me vir buscar?" As dúvidas e aqueles olhinhos a dilacerarem-me o coração. Mas, valente, lá foi ela pendurar a mochila e sentar-se a observar tudo.
E eu a chorar o dia todo. Cheia de saudades. A tentar aprender com ela também a separar-me.
A minha bebé deixou de ser exclusivamente assunto meu. Há alguém que a vai ensinar, influenciar, conhecer de outra forma.
Sim, fomos buscá-la à hora de almoço, eu e o pai. Sim, é uma das poucas. Irei sempre que puder: gosto de lhe proporcionar este "break" a meio do dia e de me dedicar a fazer-lhe o almocinho.
Chegou a casa feliz, cheia de novidades, lembrava-se da história que lhe contaram na parte da tarde. O meu coração descansou, respirei de alívio. Se ela está feliz, eu também estou.

domingo, 27 de julho de 2014

Isto de dar à luz

Com a primeira filha descobri essa coisa do amor incondicional. Do medo. Da possibilidade de fazer merda em várias dimensões... Da culpa.
Com a segunda filha descubro que podia passar a vida inteira a produzir seres humanos. O prazer de ter a casa cheia de gritos e risos que saíram de dentro de nós é imenso. Apesar do caos.
Anseio por ver nascer também a amizade entre estas duas irmãs. Este será a minha herança para elas, espero. A amizade mais cúmplice e genuína que conheço.

As partidas

A minha irmã é doze anos mais nova que eu. Parece que a estou a ver, pequenina, a chorar à janela ao colo da minha mãe porque eu ia sair. E eu, com o coração aos pedaços a fazer-me de forte e a pensar: tem de ser ela tem que se habituar.
Hoje, melhor, no dia 23 deste mês, foi ela que partiu, rumo a Berlim. Pela segunda vez. E esta coisa das partidas não se torna mais fácil, descubro finalmente. Não nos habituamos também. Dói sempre. Porque à segunda sabemos já o que iremos sentir, o que iremos perder, o quanto magoa a saudade. O skype ajuda, mas não se dão abraços, não se sente o toque e o calor da pele. Aqueles dias de férias nunca são suficientes, sabem sempre a pouco e passam a correr. Não dão para nada.
A minha irmã... Foi sempre a alegria da casa.
Volta rápido que precisamos de ti.

acerca da menina